Iniciação Científica

19.11.2014

Professor do Bom Jesus tem artigo publicado na Época

link copiado
Professor do Bom Jesus tem artigo publicado na Época

O portal da revista Época publicou um artigo produzido pelo coordenador do projeto de Iniciação Científica do Centro de Estudos e Pesquisas (CEP) do Bom Jesus, Adalberto Scortegagna. No texto, o professor explica como um projeto científico produzido no Ensino Médio envolve muito mais do que uma simples ideia, mas uma grande relação de conhecimentos de diversas disciplinas.

O projeto de Iniciação Científica do CEP foi iniciado há três anos e representa a consolidação da proposta pedagógica do Bom Jesus relacionada à produção científica. Nesse período de atividade, os alunos da Instituição conquistaram diversos prêmios na área, como o terceiro lugar nacional do Projeto Jovem Cientista, na categoria Ensino Médio, em 2013, e o primeiro lugar geral da III FICiências, nesse ano. A iniciativa também gerou a publicação do livro Fluxo de Conteúdos, da Editora Bom Jesus, que foi indicado ao Prêmio Jabuti.

Confira a seguir a íntegra do artigo publicado na Época.

O que os saquinhos plásticos nos ensinam sobre boa ciência


Como diversos olhares sobre um problema fazem a diferença na pesquisa

Em 2012, a aluna do ensino médio Ana Gabriela Person Ramos, da Escola Técnica Conselheiro Antônio Prado (Etcap), de Campinas (SP), venceu o Prêmio Jovem Cientista com o projeto de desenvolvimento de uma embalagem ecológica para mudas, que substituem os saquinhos plásticos, cuja matéria-prima é o petróleo. Os tradicionais “saquinhos” teriam destino muitas vezes incerto, contaminando o solo, os rios e o lençol freático, além de levar décadas para se decompor.

A pesquisa da Ana Gabriela nos mostra que as soluções para determinados problemas enfrentados pela sociedade podem ser facilitadas por uma visão interdisciplinar, com diversos olhares sobre um determinado problema. Ao pesquisar esse tema, tem-se um olhar da química, pois os saquinhos têm origem nos hidrocarbonetos; da geografia, pois contaminam o solo, os rios, os lençóis freáticos, além da visão da existência de tempo longo, o tempo profundo como afirma Gould (1991), fundamental para uma maior conscientização ambiental; da biologia, com a degradação do meio ambiente e o impacto sobre os seres vivos; da sociologia, quando se observa a sociedade de consumo; da história com a Segunda Revolução Industrial e o apogeu da Era do Petróleo, e assim por diante.

A solução para um problema pode estar muito próxima de nós. Para evitar uma visão distorcida ou parcial, é importante se distanciar um pouco do objeto e olhar o todo. Na pesquisa científica essa máxima também é verdadeira. Muitas vezes buscamos as respostas para uma dúvida a partir das lentes de uma única disciplina. Por que não observar sob a ótica dos diversos olhares? Estaríamos, dessa forma, desenvolvendo a prática da interdisciplinaridade e, neste contexto, a visão interdisciplinar na Educação Básica auxilia professores e alunos no processo de desenvolvimento de pesquisa científica.

O que é a interdisciplinaridade?

O próprio entendimento de interdisciplinaridade vem se ampliando. Vamos a alguns deles. O psicólogo Jean Piaget entende a interdisciplinaridade como “o intercâmbio mútuo e a integração entre várias disciplinas, tendo como resultado um enriquecimento recíproco”.

Olga Pombo observa que se atinge a interdisciplinaridade quando a experiência de um ensino integrado, de alguma maneira, ultrapassa os limites da pluridiscipinaridade. Pode ser qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas buscando a compreensão de um objeto, a partir da confluência de pontos de vista diferentes. Portanto, a interdisciplinaridade supõe, segundo a autora, um trabalho continuado de cooperação dos professores envolvidos.

Já Adna Candido de Paula observa que a interdisciplinaridade supõe um diálogo, uma troca de conhecimentos, análises e métodos entre duas ou mais disciplinas. A interdisciplinaridade, para a autora, implica interações e enriquecimento mútuo entre vários docentes.

Para atingir a interdisciplinaridade é necessário romper com o isolamento das disciplinas, promover a discussão entre os professores e confrontar diferentes pontos de vista, isto é, manter um diálogo constante das áreas de conhecimento no processo educativo.

A interdisciplinaridade favorece ao estudante reconhecer que os conteúdos estão articulados em todas as disciplinas e, assim, contribui para o desenvolvimento de um conhecimento mais integrado, contextualizado, amplo e propulsor de novas relações entre os saberes.

Em 2013, o pedagogo Claudino Gilz e eu desenvolvemos, com um grupo de professores, uma obra que busca interligar o conteúdo das disciplinas do ensino médio. O livro, indicado ao Prêmio Jabuti na categoria Educação, traz a interrelação entre as diversas áreas do conhecimento. Fluxo de Conteúdos é uma proposta metodológica interdisciplinar para a educação básica no âmbito do ensino médio.

Nesta publicação observamos que a interdisciplinaridade é uma proposta que desafia a todos os envolvidos com a educação – principalmente a educação que é cogitada e oferecida no meio acadêmico – a interagir, dialogar, trocar pontos de vista, discutir e a considerar o todo, sem descuidar dos detalhes. A interdisciplinaridade pretende redimensionar o modo como os docentes articulam a construção do conhecimento, destituído, por um lado, na medida do possível, as iniciativas didáticas pontuais (projetos) e, por outro, buscando processos de aprendizagem planejados, flexíveis, contínuos e que estejam incorporados à prática docente. A interdisciplinaridade é, assim, inerente ao modo de ser e de atuar do professor. Não é um desafio ou uma nova cultura pedagógica a ser construída.

O Prêmio Jovem Cientista é interdisciplinar

O tema do Prêmio Jovem Cientista de 2014, Segurança Alimentar e Nutricional, pode ser visto sob diversos ângulos, tais como o da biologia, da química, da geografia, da física, da sociologia e assim por diante. O estudante pode observar e analisar o desafio sob diversos olhares para, assim, buscar as várias possibilidades de solucionar o problema.

Dessa forma, o tema do prêmio e suas linhas de pesquisa voltadas ao ensino médio (Produção sustentável de alimentos; Acesso a alimentos saudáveis para todos; Hábitos alimentares: da gestação à terceira idade; Inovações na conservação e aproveitamento integral dos alimentos; Soluções para a desnutrição e a obesidade) podem ser uma ótima oportunidade para alunos e professores treinarem o olhar interdisciplinar.

* Adalberto Scortegagna é doutor em Ciências na área de Ensino e História das Ciências da Terra (Unicamp) e Coordenador de Geografia do Centro de Estudos e Pesquisas (CEP) da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus.