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06.12.2018

Criança emocionalmente saudável está pronta para enfrentar desafios

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Criança emocionalmente saudável está pronta para enfrentar desafios

Hoje é comum que os familiares satisfaçam todas as vontades do filho, poupando-o até mesmo de pequenos problemas ou frustrações e protegendo-o de tudo – mesmo quando ele não precisa. Mas existe um limite entre o saudável e o prejudicial ao preparo para a vida e o desenvolvimento emocional da criança. Para o pediatra José Francisco Malucelli Klas, coordenador do Departamento de Saúde Escolar do Colégio Bom Jesus, essas atitudes dos familiares não dão à criança ou ao adolescente a oportunidade de desenvolver habilidades socioemocionais, essenciais para a vida adulta. “A falta dessas habilidades está associada, com frequência cada vez maior, a adolescentes e adultos com baixa tolerância às frustrações e pouca capacidade de enfrentamento positivo de situações estressoras cotidianas, levando a quadros, muitas vezes graves e prolongados, de insatisfação com a vida e sofrimento emocional, mesmo em situações em que aparentemente nada lhes falta”, conta o médico.

As crianças e os adolescentes precisam ser ajudados a reconhecer que problemas e frustrações fazem parte da existência e que estes podem ser benéficos. Cada desafio é uma oportunidade de aprender as habilidades que poderão ser usadas nos próximos desafios. “Os familiares podem, diante de um problema vivido pelo filho, relembrar que ele já passou por situações difíceis no passado e que as superou, que virão outras dificuldades no futuro, provavelmente maiores, e que sempre haverá alguém para apoiá-lo nesses momentos”, orienta Klas. De acordo com o médico, os familiares também podem relatar problemas pelos quais eles passaram ou passam e que existem formas de resolvê-los.

Perigos da satisfação imediata
Inúmeros estudos científicos demonstram que promover a satisfação imediata de todas (ou quase todas) as vontades das crianças e dos adolescentes pode ser muito danoso. Em vez disso, é recomendando que os familiares façam uso do chamado adiamento de recompensas (delayed gratification). Isso significa dizer “não” para algumas vontades da criança e do adolescente ou postergá-las. Como forma de amenizar eventuais argumentações, é importante que os familiares deixem claro para o filho que não realizarão todas as vontades dele e que isso os ajudará a enfrentar as adversidades próprias da vida, agora e no futuro.

Veja alguns exemplos práticos de adiamento de recompensas (dependendo da idade):

  • Limitar o tempo de exposição da criança ou do adolescente a videogames, pois esses jogos, na sua maioria, estimulam a recompensa imediata – ao cumprir a tarefa designada pelo programador do software, o jogador é imediatamente recompensado com nova fase, “vida extra”, estrelas, moedas, equipamentos novos (virtuais) etc.
  • Estimular a criança ou o adolescente a economizar parte de eventual mesada para comprar com o dinheiro dele algo que deseje muito. Aguardar para acumular o montante necessário é uma forma de adiar recompensa.
  • Restringir presentes a datas especiais e não antecipar o presente. Aguardar por um presente muito esperado ajuda a criança ou o adolescente a entender que na vida as gratificações podem demorar, sem que haja prejuízo no equilíbrio emocional deles.
  • Postergar a compra de algo que a criança ou o adolescente quer. Por exemplo, em uma loja de brinquedos, a criança quer um presente que os familiares poderiam comprar na hora, mas combinam que comprarão em uma ou duas semanas, ou em uma data especial. Adiar a satisfação de alguns desejos ajuda no desenvolvimento da resiliência.
É importante que a criança ou o adolescente tenha a percepção clara de que terá a presença de pessoas (pai, mãe, outros familiares) para ensinar habilidades socioemocionais e para dar apoio durante os momentos difíceis da vida, mas não para poupá-lo de todas as adversidades.

Papel da escola
Um dos maiores ganhos de crianças e adolescentes que aprendem a se frustrar é o aprendizado da resiliência – nome dado à capacidade de o indivíduo enfrentar e superar situações estressoras (desafios, mudanças, conflitos, adversidades, perdas, crises), retornar ao equilíbrio e transformá-las em experiências de vida, aprendendo com elas e fortalecendo-se para responder melhor às situações similares no futuro. Estudos mostram que pessoas resilientes costumam se adaptar mais facilmente às situações e são mais autoconfiantes e felizes.

Naturalmente, as escolas são locais que estimulam o desenvolvimento da resiliência: o número de alunos e o tempo em que convivem faz com que surjam pequenos conflitos de ideias que precisam ser enfrentados e resolvidos. A diferença entre as pessoas precisa ser respeitada, existem metas a serem atingidas, algumas frustrações surgem naturalmente, as regras são claras, entre outros fatores preparatórios para a vida futura.

No Bom Jesus, o Programa de Desenvolvimento de Habilidades Sociais foi criado para auxiliar no desenvolvimento socioemocional dos alunos. Além da resiliência, são trabalhadas questões como empatia, autocontrole, expressão de sentimentos, entre outras. “A proposta é formar adultos emocionalmente saudáveis, capazes e autônomos”, finaliza o médico, que destaca a participação da família neste processo como fundamental.

Esse conteúdo foi publicado no Guia dos Pais, do G1 Paraná.

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