Iniciação Científica
03.09.2021Estudantes do Colégio Bom Jesus criam jogo on-line para crianças com autismo
![Estudantes do Colégio Bom Jesus criam jogo on-line para crianças com autismo](https://www.bomjesus.br/galeria/getImage/477/1113980845933468.jpg)
As alunas da 3.ª série do Ensino Médio do Colégio Bom Jesus Vicente Pallotti, em São Paulo (SP), Gabrielle de Mello Naide, Giulia Nakamura da Silva e Larissa Mioto Sevilha, criaram um jogo on-line para crianças com transtorno do espectro autista (TEA). O jogo, batizado de “Solucionando”, foi desenvolvido em 2020, quando elas estavam na 2.ª série, durante o Programa de Iniciação Científica. Ao baixar o Solucionando no celular por meio do aplicativo Marvelapp, a criança consegue interagir em cerca de 300 telas que trazem desafios e estímulos especialmente pensados para auxiliar no tratamento do transtorno.
“Como tenho um irmão com autismo, percebo no meu dia a dia que ele tem dificuldades para fazer coisas que são muito simples para nós. E, durante a pandemia, tive a oportunidade de vivenciar isso com mais frequência. Então, na Iniciação Científica, pensamos em fazer algo relacionado ao espectro autista”, explica Gabrielle. Larissa comenta que ela e as colegas juntaram a vontade de fazer algo pelo próximo à vivência da colega Gabrielle. “E a ideia do jogo on-line foi fantástica, pois é mais fácil para os pais terem acesso a ele pelo celular mesmo, além do custo, que é zero”, comenta Larissa. Já Giulia foi a responsável pelas artes do jogo – que são coloridas e lúdicas, com cores especialmente escolhidas para as crianças com autismo.
O Solucionando é dividido de tal forma que estimula as habilidades e explora os desafios enfrentados pelas crianças com TEA. E cada uma das fases tem vários níveis. Na brincadeira do supermercado, por exemplo, a criança faz compras de acordo com o que está em uma lista. Se escolher algo que está fora do combinado, tem de voltar uma fase. Na parte da música, o jogador relaciona sentimentos com o som que está sendo proposto – e, da mesma forma, não pode errar a carinha que representa o sentimento, pois, assim, volta uma fase. Nessa etapa, o jogo é um estímulo à percepção dos sentimentos – um desafio para as crianças com autismo.
Já a parte do garfinho estimula as percepções sensoriais, a observação por parte da criança. Por fim, o tangram é uma espécie de quebra-cabeça e jogo da memória, que estimula a visão espacial, a coordenação motora, a imaginação. Nessa parte do jogo, a criança monta vários animais por meio das peças disponíveis no tangram.
O professor e orientador das meninas, Laércio Ferreira, acredita que a pesquisa desenvolvida por elas é de grande valor, pois colocou ainda mais em evidência algumas características muito positivas das três, como o espírito de participação, o engajamento social e a vontade de solucionar problemas. “Desde o primeiro momento em que me apresentaram o esboço do projeto já se percebia que, a partir da observação do que ocorre ao nosso redor, podemos encontrar possíveis soluções para situações do cotidiano. Acredito que esse projeto seja apenas o princípio de grandes descobertas nas vidas acadêmica e profissional das meninas”, comenta o professor.
A gestora do Bom Jesus Vicente Pallotti, Regina Maria de Guido, diz que o trabalho das estudantes do colégio, que nasceu motivado por uma necessidade familiar durante a pandemia, é motivo de orgulho. “Imagine quantas outras crianças poderão se beneficiar com um jogo simples e interativo”, indaga a gestora. Ela lembra que as meninas continuam em busca de patrocinadores para o aperfeiçoamento da pesquisa.
O transtorno do espectro autista, também conhecido como autismo, foi identificado nos anos 1940 pelos médicos Leo Kanner e Hans Asperger. Segundo o Ministério da Saúde, algumas características são mais comuns, mas podem ser apresentadas em conjunto ou isoladamente, como, por exemplo: isolamento mental; tendência à repetição de alguns atos; rituais e rotinas frequentes; fixações e fascinações altamente direcionadas e intensas; escassez de expressões faciais e gestos (não olham diretamente para as pessoas); utilização anormal da linguagem; boas relações com objetos; ansiedade excessiva; fala prejudicada.
PASSADO E FUTURO
Antes de partir para a parte prática – o desenvolvimento do jogo especificamente –, as meninas fizeram uma extensa pesquisa sobre o autismo. História do transtorno, tratamentos, sintomas, características, equipes que cuidam de pessoas com autismo são alguns dos pontos propostos na pesquisa teórica das três alunas.
Depois elas partiram para a pesquisa de montagem de aplicativos, jogos on-line. Importante destacar que elas fizeram tudo sem o auxílio de especialistas em internet ou em programação, por exemplo. “Pesquisamos tudo na internet, no YouTube, principalmente”, contam. O irmão de Gabrielle ajudou fazendo testes com o jogo, além de uma apresentação ao CEU Rosa de França, localizado na cidade de Guarulhos (SP). Agora, elas querem dar continuidade ao projeto, talvez com algum patrocínio para aperfeiçoar o jogo e expandir o alcance por parte das crianças com autismo. “A gente quer que ele se popularize, pois ajuda muito esse público”, diz Gabrielle.
O jogo Solucionando foi um dos finalistas na categoria Sociedade da Feira de Iniciação Científica do Ensino Médio (Ficem) do Colégio Bom Jesus, em 2020.