Iniciação Científica

03.09.2021

Estudantes do Colégio Bom Jesus criam jogo on-line para crianças com autismo

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Estudantes do Colégio Bom Jesus criam jogo on-line para crianças com autismo

As alunas da 3.ª série do Ensino Médio do Colégio Bom Jesus Vicente Pallotti, em São Paulo (SP), Gabrielle de Mello Naide, Giulia Nakamura da Silva e Larissa Mioto Sevilha, criaram um jogo on-line para crianças com transtorno do espectro autista (TEA). O jogo, batizado de “Solucionando”, foi desenvolvido em 2020, quando elas estavam na 2.ª série, durante o Programa de Iniciação Científica. Ao baixar o Solucionando no celular por meio do aplicativo Marvelapp, a criança consegue interagir em cerca de 300 telas que trazem desafios e estímulos especialmente pensados para auxiliar no tratamento do transtorno.

“Como tenho um irmão com autismo, percebo no meu dia a dia que ele tem dificuldades para fazer coisas que são muito simples para nós. E, durante a pandemia, tive a oportunidade de vivenciar isso com mais frequência. Então, na Iniciação Científica, pensamos em fazer algo relacionado ao espectro autista”, explica Gabrielle. Larissa comenta que ela e as colegas juntaram a vontade de fazer algo pelo próximo à vivência da colega Gabrielle. “E a ideia do jogo on-line foi fantástica, pois é mais fácil para os pais terem acesso a ele pelo celular mesmo, além do custo, que é zero”, comenta Larissa. Já Giulia foi a responsável pelas artes do jogo – que são coloridas e lúdicas, com cores especialmente escolhidas para as crianças com autismo.

O Solucionando é dividido de tal forma que estimula as habilidades e explora os desafios enfrentados pelas crianças com TEA. E cada uma das fases tem vários níveis. Na brincadeira do supermercado, por exemplo, a criança faz compras de acordo com o que está em uma lista. Se escolher algo que está fora do combinado, tem de voltar uma fase. Na parte da música, o jogador relaciona sentimentos com o som que está sendo proposto – e, da mesma forma, não pode errar a carinha que representa o sentimento, pois, assim, volta uma fase. Nessa etapa, o jogo é um estímulo à percepção dos sentimentos – um desafio para as crianças com autismo.

Já a parte do garfinho estimula as percepções sensoriais, a observação por parte da criança. Por fim, o tangram é uma espécie de quebra-cabeça e jogo da memória, que estimula a visão espacial, a coordenação motora, a imaginação. Nessa parte do jogo, a criança monta vários animais por meio das peças disponíveis no tangram.

O professor e orientador das meninas, Laércio Ferreira, acredita que a pesquisa desenvolvida por elas é de grande valor, pois colocou ainda mais em evidência algumas características muito positivas das três, como o espírito de participação, o engajamento social e a vontade de solucionar problemas. “Desde o primeiro momento em que me apresentaram o esboço do projeto já se percebia que, a partir da observação do que ocorre ao nosso redor, podemos encontrar possíveis soluções para situações do cotidiano. Acredito que esse projeto seja apenas o princípio de grandes descobertas nas vidas acadêmica e profissional das meninas”, comenta o professor.
A gestora do Bom Jesus Vicente Pallotti, Regina Maria de Guido, diz que o trabalho das estudantes do colégio, que nasceu motivado por uma necessidade familiar durante a pandemia, é motivo de orgulho. “Imagine quantas outras crianças poderão se beneficiar com um jogo simples e interativo”, indaga a gestora. Ela lembra que as meninas continuam em busca de patrocinadores para o aperfeiçoamento da pesquisa.

O transtorno do espectro autista, também conhecido como autismo, foi identificado nos anos 1940 pelos médicos Leo Kanner e Hans Asperger. Segundo o Ministério da Saúde, algumas características são mais comuns, mas podem ser apresentadas em conjunto ou isoladamente, como, por exemplo: isolamento mental; tendência à repetição de alguns atos; rituais e rotinas frequentes; fixações e fascinações altamente direcionadas e intensas; escassez de expressões faciais e gestos (não olham diretamente para as pessoas); utilização anormal da linguagem; boas relações com objetos; ansiedade excessiva; fala prejudicada. 

PASSADO E FUTURO

Antes de partir para a parte prática – o desenvolvimento do jogo especificamente –, as meninas fizeram uma extensa pesquisa sobre o autismo. História do transtorno, tratamentos, sintomas, características, equipes que cuidam de pessoas com autismo são alguns dos pontos propostos na pesquisa teórica das três alunas.

Depois elas partiram para a pesquisa de montagem de aplicativos, jogos on-line. Importante destacar que elas fizeram tudo sem o auxílio de especialistas em internet ou em programação, por exemplo. “Pesquisamos tudo na internet, no YouTube, principalmente”, contam. O irmão de Gabrielle ajudou fazendo testes com o jogo, além de uma apresentação ao CEU Rosa de França, localizado na cidade de Guarulhos (SP). Agora, elas querem dar continuidade ao projeto, talvez com algum patrocínio para aperfeiçoar o jogo e expandir o alcance por parte das crianças com autismo. “A gente quer que ele se popularize, pois ajuda muito esse público”, diz Gabrielle.

O jogo Solucionando foi um dos finalistas na categoria Sociedade da Feira de Iniciação Científica do Ensino Médio (Ficem) do Colégio Bom Jesus, em 2020.